Fossa de Babel Episódio 61

Cheguei todo empenado da viagem, os golos de grogue fizeram-me do estômago parecer uma maquina de lavar roupa. Cheguei ao bloco Ak47 e fui directo ao chuveiro luxo que nunca consegui dispensar na vida (embora tenha reduzido bastante o tempo e o caudal de utilização).
Acendi a cafeteira para ver se conseguia apagar com o resto da tontura provocada pelo grogue e sentei-me em frente ao tele-ordenador a arquivar negativos e dados sobre o DNA das árvores do santuário.
Como a viagem se atrasou decidi fazer directa faltam poucas horas para apanhar a Ginger, fiquei de a ir buscar uma hora antes do amanhecer prometi-lhe vermos o amanhecer do topo da colina e quatro horas passam num estante a ver negativos.
Cinco da manhã são horas, pego na mochila com o material necessário (nunca se sabe) e monto o clico-flutuador rumo a casa de Ginger. Hummmm...parece estar atrasada, terá adormecido assim vamos perder o amanhecer vou-lhe atirar umas pedrinhas à janela.
Do alto janela Ginger ria-se e pensava para os seus botões que uma mulher deve saber fazer esperar-se....

Fossa de Babel Episódio 60

Aos solavancos na traseira deste camião com mais 30 pessoas pouco ou nada podemos fazer para matar o tempo tirando trocar pequenos pedaços de comida ou oferecer um trago de aguardente para matar o bicho.
Desengane-se quem pensa que cá o Shane seria o tipo de pessoa que anda-se numa potente máquina a tentar salvar o mundo, sou apenas um pedestre com uma ciclo-flutuadora para as voltas maior na cidade que faz o que pode para tentar salvar o que lhe resta da alma.
Desengane-se também quem vê em mim um escuteirinho perdido no caminho (que por acaso até aconteceu e que está constantemente a trazer-me problemas) mas estive dentro e preso da pior das maneiras monitorizado de consciência .
Mas chega de retórica barata bebo mais um golo de grogue e fito a poeira da paisagem que nos adocica as narinas tentando imaginar o encontro de Domingo com a Ginger lembro-me agora que nesta altura do ano são rainhas as Camélias ver se me lembro de lhe levar uma.

Fossa de Babel Episódio 59

Acordei naquela manhã azul de inverno o mais cedo possível como quando criança queremos muito abrir os presentes de Natal. Comi uma pêra e bebi um chá com umas bolachas e marmelada caseira, de vez em quando batem-me os remorsos da má vida alimentar, mas a minha excitação é de outra estirpe.
- Bom Dia Professor, estava a sua espera!
- C'os Diabos Shane caiste da cama?
- Acho que acabei de ter uma ideia dos diabos ehehehehh! Tome o pequena almoço e vamos dar uma volta por aí. Eu continuo a achar que por aqui existem olhos a mais o professor vai ter que fazer alguma coisa sobre isso.
Um pouco depois já no meio da mata.
- Professor, tive uma ideia durante o sono não sei se lhe vou dizer um perfeito disparate ou lhe vou trazer o milagre do financiamento que precisamos para a reflorestação da Fossa. Será possível com a ajuda de um "atomizador" a partir do Dióxido de Carbono libertado na fotossíntese aproveitar as moléculas de Carbono para as reagrupar num diamante.
- C'os Diabos Shane, isso é uma ideia aterradora se cai mãos erradas mas ao mesmo tempo uma bela ideia de salvarmos o nosso projecto. Para todos os efeitos esta conversa não existiu para ninguém.
Aproveitei o resto do dia para me preparar psicologicamente para a dura viagem do dia seguinte.

Fossa de Babel Episódio 58

Depois do passeio pelas matas de Carvalhos fomos até ao abrigo do Professor para uma refeição decente com alimentos plantados por o pessoal daqui da zona.
Retirei-me para o alpendre acendi o inevitável cigarro e abri um velho livro de poesia, não sei se foi famoso ou não mas agradam-me as suas palavras:

"MEDITAÇÃO EM TEMPO DE GUERRA

Numa pulsação da artéria,
Sentado naquela velha pedra cinzenta,
Debaixo da velha árvore quebrada pelo vento,
Soube que o uno é animado,
A humanidade inanimada fantasia

W.B.YEATS"

Medito em suas palavras remexendo o café e penso nos dias inocentes da juventude em que via a humanidade como o uno animado mas foi-se desacreditando o sonho ainda vivia em Babel, acreditando num só idioma num só sentir.

Fossa de Babel Episódio 57

Acordei à porta do abrigo bastante estranbulhado já o sol ia alto não tive coragem de o acordar ás 4 da manhã. Esfreguei os olhos e dei com a cara do Professor Acácia.
- BomDia Shane , toma lá esta caneca de café, ainda és o único que consegue beber essa mixórdia do séc passado.
- Bom dia Professor o café é mesmo assim amargo como a vida mas com o aroma dos braços duma mulher perfumada. Dê-me dois minutos para lavar a cara e os dentes e depois erradamente fumar um cigarro..
-Shane fizes-te amostras de DNA do material da praia?
-Sim professor, as mutações estão cada vez mais fortes os fulanos da TREEGLOBALRESERCH (TGR) tramaram a coisa bem tramada as mutações libertam toxinas bastante fortes, resumindo onde caia uma semente deles cresce o milagre prometido de crescimento rápido mas também a da morte rápida não duram mais do que um ano uma árvore adulta deixando o solo improprio para ser reflorestado uns anos.
- Muito bem Shane já aqui tínhamos chegado à mesma conclusão temos que criar um forma de fazer regredir os cromossomas modificados. AHhh e quanto ao outros dois projectos máximo segredo Shane.
- Da minha parte esteja descansado....e agora vamos lá ver esses Carvalhos faz anos que não vejo um.

Fossa de Babel Episódio 56

Enquanto salto no camião que me leva ao Gerês dezasseis horas de viagem as estradas deixaram de ser arranjadas depois dos veículos de nova geração e apenas se usam transportes antigos para carregar prisioneiros ou no caso do projecto sombra para aceder a bosques mais recônditos é a única solução.
Levo um feliz e "absurdo" sorriso na cara finalmente arranjei coragem para convidar Ginger Brown para sairmos, Domingo de madrugada quando que me "livrar" do Professor Acácia vou busca-la e leva-la a passear como já disse à zona das crianças selvagens.
Mas agora tenho de me concentrar na minha viagem. Basicamente o projecto sombra como o nome indica surgiu da necessidade de reflorestar o planeta terra (criar sombras frescas para viver e fazer viver). O projecto partiu da cabeça do Professor. A ideia é básica provocar aceleramento a nível metabolar que ajude as árvores a crescer num período de tempo mais rápido, mas isto foi só o principio dos problemas.....

Fossa de Babel Episódio 55

Professor Acácia
Depois de duas semanas de marés violentas a analise dos detritos biológicos especialmente os troncos de árvores apontam para um estranha mutação ao nível cromossomático. Envio-lhe 4 fotos as que consegui fazer sem por a vida em perigo devido ás toxinas.

Até breve
Shane O' Martins

Fossa de Babel Episódio 54

Manhã escura o normal nesta época do ano na Fossa. Sopram os ventos do lado da GeoReciclagem - Estação acumuladora alimentada com os detritos que se vão produzindo na Fossa que até tem grande utilidade e eficácia mas esqueceram-se no seu planeamento de anular o fumo preto das chaminés que por acaso são completamente inofensivos mas o homem também precisa de luz, mergulhado estes lados da fossa no breu.
No bloco Ak47 vou escrevendo, ordenando as memorias, mas não dura muito tempo tenho demasiadas coisas na cabeça que me preocupam:
- Primeiro ainda não ter convidado a Ginger a sair! :)
- O mail que recebi do passado, porque motivo alguém quererá atacar um projecto pequeno como o projecto sombra, o que saberá o professor Acácio que eu não sei. Tenho que lhe ir fazer uma visita ao santuário do Gêres sei que anda por lá a estudar Carvalhos.
- Soube da existência de uma pequena cidade de meninos selvagens gostaria de ir ao local.
No bloco Ak47 vou escrevendo agora coisas estudiosas preparo as notas de campo para o professor Acácio que o tempo urge e em breve a nossa ideia será posta em pratica por todo a a Fossa gratuitamente, assim espero eu!

Fossa de Babel Episódio 53

- Ffffffiiiiiiiiuuuuuuuuuu!
Bem onde ia eu ontem, nas árvores. Há quarenta anos atrás mais ou menos quando tudo começou, tudo se iniciou com umas pequenas chuvas ácidas que queimaram florestas na América e bosques na Europa quando o nível de acidez começou a ser alarmante lá se assinou o protocolo da Cidade do México para os assuntos ambientais, mas logo tivemos problemas sérios a níveis climáticos mais uma vez com as temperatura a atingirem amplitudes térmicas na ordem de mais 10ºc nas suas extremidades.
O que isto tem a ver com as árvores, foram grande parte dizimadas da face do planeta e eu e o Professor Acácia formamos uma equipa de estudo comportamental das árvores, eu sou um ignorante faço apenas o trabalho de campo como fotografar tridimencionalmente e recolher amostras de DNA para o Projecto Sombra.
A parte cientifica está explicada a parte emocional também se explica rapidamente. Se repararmos numa árvore como um bloco só iremos constatar que as raízes serão mais ou menos do tamanho da copa das árvores criando uma simetria engraçada que complementa a ligação de dois elementos o ar e a terra.
Estou cansado os underworld rebentam nos meus ouvidos e pedem para ir esticar as pernas pela Fossa que quando não me obriga a pagar os meus erros do passado nos campos de reeducação fica um lugar mais bonito.

Fossa de Babel Episódio 52

Não tenho grandes espectactivas do futuro, o futuro correu mal (no sentido da humanidade, e no que a humanidade fez à biodiversidade). Poderia dissertar uma tese sobre o ocorrido mas mais vale ir explicando isto em pequenas doses é menos doloroso.
Estou em frente ao tele-ordenador a verificar os e-mails basicamente o costume infos das redes sociais e afins. Um decididamente importante vem datado de 20 Agosto de 2001 ( esqueci-me de dizer que os tele-ordenadores têm a capacidade de viajar no tempo electronico mas estão fortemente guardados por Guardiões Binários para não existirem desastres de maior).

"20 Agosto de 2001

Shane O'Martins,
Serve o presente mail para te alertar que te movem uma conspiração e apenas os Guardiões do Templo Asterisco te podem ajudar. Os teus ficheiros data podem vir a ser todos eliminados."

Meti as mãos à cabeça e pensei nos negativos das Árvores que neste momento podem parecer de menor importância mas amanhã passo a explicar....

Fossa de Babel Episódio 51

Esvazio-me como um saco de prendas no Natal e derreto-me na cama no meio dos cobertores. A minha cabeça hoje (para não variar) é feita de mutações, hoje um pouco mais violentas que o costume.
Tento agarrar-me a uma agradável para não me deixar ir no turbilhão a minha doença é assim andava feliz da vida alguns miligramas a mais e sinto a confusão a instalar-se.
No meio do rodopio vem-me a imagem de Ginger Brown ela é uma rapariga simpática talvez um dia destes a convide a ir ver crianças selvagens sei que são a perdição dela (e não menos a minha) mas ela perde-se em trabalho burocrático para por a ONG a funcionar, estou certou certo que lhe vou fazer uma surpresa agradável.
A mutação fica pior no quarto minguante que aconteceu ontem se o meu manual inter-estelar não estiver errado, o que me vai levar a ficar reduzido ao tamanho duma estrela aos olhos nus num céu de prata.

Fossa de Babel Episódio 50

Segunda-Feira Chuvosa estou um pouco sem energia ontem zombei (acto de curtir em massa e profundamente) de mais fui ver Cmdt Marcos´s Pipe Soundsystem e hoje estou em casa a fazer uma das coisas que mais gosto ,(apesar de me dar aquele ar de coleccionador de selos da infância o acto é muito mais desprendido do que isso) e estive a ordenar a minha colecção de negativos e positivos digitais de Árvores.
Já tinha começado uns anos antes, bem antes nas ruas da minha ???? cidade no outono quando estão despidas maioritariamente plátanos fáceis de reconhecer pela textura camuflada do seu tronco e pelos nós dos seus topos.
Mas decididamente acordei para elas duma forma magica numa visita ao territórios do sul austral e vi uma senhora árvore de formas perfeitas agarrada ao chão como se o vento a quise-se levar para outras paragens.
Decididamente a mais bela das belas que vi até hoje, nem digo como fotografia mas o momento a envolvência. Ás vezes digo a brincar que as melhores fotografias nãos são as que tiramos mas as que ficam na nossa cabeça.

Anotações 022

Fossa de Babel Episódio 48

De regresso à Fossa Central pensava no acto irreflectido que foi dar um isqueiro-laser a um menino selvagem mas talvez funcione como uma (pequena bomba na sua consciência), porque os incêndios que provocam são maioritariamente para se aquecerem, e ter o poder do fogo nas mãos foi o primeiro passo para a civilização.
Por falar em meninos selvagens, paro a bicicloflutuadora no armazém "kid sauvage ONG" que é a ONG que trata dos crianças selvagens começou com o exemplo faz muito anos de pequenas ONG que tentavam tirar "meninos da rua" no Brasil mas a situação piorou e foi preciso procurar uma solução global mas não tão global assim porque cada sede regional tem o direito de resolver as suas crises.
- O que te trás por cá Shane O'Martins, é desta que juntas a nós?
- Olá Ginger Brown! Não ainda não é desta, sabes que não gosto de ser "attached", mas conta comigo para toda a ajuda. Olha hoje avistei mais cinco pareciam-me serenos dado ao costume.
-São cada vez mais....-disse Ginger com um ar perdido.
-Isto não está famoso com a o problema de o emprego ter passado duas vezes virtual ou seja é feito em estações de trabalho e é completamente desvinculado as pessoas são tratadas como lixo, não existe segurança nenhuma os pais que rejeitam os métodos conceptionais impostos por babel devido a muitas razões como religiosas por exemplo, furam a barreira do filho único imposta por Babel e depois é o abandono.
-Andas bem informado, anda pago-te um café....-disse Ginger
- Ando por aí, ando por aí....

Fossa de Babel Episódio 47

Tenho o nariz entupido faz umas semanas, quando menos espero escorre-me um rio de detritos por o nariz a baixo e como sou um homem desprevenido raramente uso um lenço o resultado é fatal, penso serem resíduos de uma situação que me deu mau kharma (sem perceber muito bem o que é mas tenho uma ideia.)
Adiante peguei na minha bicicloflutuadora (veiculo que substituiu as bicicletas , a radical diferença é que não têm rodas e deslocam-se com a força motriz-flutuante). São cinco da manhã faz um "frio de crachar", paro a bicicloflutuadora no topo da colina em frente à cidade reúno alguns galhos e consigo fazer uma fogueira (actividade perigosa nos dias que correm existe sempre o perigo de aparecerem miúdos selvagens incendiários - espécie de meninos perdidos do PETER PAN - mas com uma indute mais violenta tudo devido a superpopulação, muitos deles são abandonados à nascença e crescem por aí ao Deus dará, mas também já existem casos de miúdos reeducados com sucesso).
Heis que o que temia aconteceu apareceram cinco miúdos, o mais velho teria uns doze e o mais novo não mais que quatro. Estavam com mais medo do que eu, pareceu-me, convidei-os para se juntarem ao fogo o que fizeram com toda a graça.
Eram perto das seis quando o momento mágico aconteceu o grande milagre de todos os dias o amanhecer rebentava em frente à colina e eu apontei com o indicador em frente e os miúdos abriram a boca com o ar admiravelmente estupefacto.
Para mim era hora de ir, não o fiz sem oferecer o laser-lighter ao miúdo mais velho, espero que no meio meio da alma selvagem o saiba usar com cuidado.

Fossa de Babel Episódio 46

Á noite quando não há estrelas o que raramente acontece acentua-se o flúor gasoso daFossa, mas hoje durante o block-out das 23h ás 24h (agora recorrentes devido à nova politica de energia de fossa - esta acertada! custa mas os recursos fosseis que a produzem maioritariamente estão a acabar e a acabar connosco).
Tinha acabado de jantar subi ao telhado com uma caneca de chá verde que é bastante energético e faz bem a uma série de coisas inclusive é anti-cancerígeno.
Deitei-me no chão acendi um pequeno cachimbo e que bem me souberam as duas coisas juntas.De repente a via láctea caiu em cima de mim, fui caminhando sobre ela por uma ou outra constelação conhecida e pensando ao mesmo tempo numa crença engraçada dos Chineses. Eles acreditam que cada pessoa têm direito à sua estrela e são perto de 5 biliões penso eu.
Fumo e penso que um dia encontrarei a tua estrela e ficarei a fita-la no vácuo silêncioso do grande universo.

Fossa de Babel Episódio 45

Manhã vazia suspenso no tédio do meu quarto parteleira. Penso nas velhas leis (mais uma vez) Olho por olho dente por dente e penso que ainda me faltam alguns dentes para ficar desdentado apesar de já gozarem com os que tenho mas sinto que não me vou dar ao trabalho de os mandar à cara de alguém.
Abandono a cama em busca dum café matinal, ainda uso uma velha máquina do sec. XX que tira um a belo café (se a qualidade for boa o que é raro aqui na fossa :) ) e na janela vejo a imensidão suburbana, selva com savana de betão e fico preso com os olhos a arder em febre à espera do chamamento dos seus ecos mas sou um homem cego. Não percebo as relações do meu tempo nem as politico-sociais nem a das pequenas relações. Mas mesmo sem as entender não deixo de me questionar, de tentar filosofar (coisa que nunca compreendi muito bem deixo-me sempre ultrapassar por o sentir ).

Fossa de Babel Episódio 44

De volta aos 60 m2 da fracção temos direito na fossa. Da parte de tarde vamos construir um ginásio comunitário que também tem por funções ser uma pequena central de acumulamento de energia.
O esquema é relativamente simples conseguimos ainda arranjar doze bicicletas dos modelos típicos do sec XX e foram alinhadas numa espécie de coberta envidraçada no pátio do bloco todas ligadas a micro dínamos altamente "potentes que com o rodar dos rodados vai produzindo energia eléctrica (um pouco como as antigas lâmpedas das chocolateiras) que serve para sustentar os outros equipamentos do ginásio.
Também guardamos alguma energia para a noite porque apenas temos direito a uma hora e meia de horário nobre onde as televisões estão barricadas nos telejornais seguidos das net-novelas, e existe gente que gosta de ler um livro mais tarde ou coisas similares.Tivemos esta ideia há três ou quatro anos e só agora conseguimos termina-la.
Cá em baixo no meio da pequenada que disputa o seu contributo para a energia do bloco e eu penso na luta diária que será a dos dias seguintes a convencer as pessoas a fazer exercício....mas tudo se resolvera e eu não largo este maldito cigarro, e não desenganem-se eu não sou o salvador da humanidade sou o que resta da perdição dela.

Fossa TV apresenta - um não comercial entretantanto

Fossa de Babel Episódio 43

Ao fim de uma semana de campos de reeducação tenho as mãos esfoladas e em sangue, fizeram-nos passar horas infindáveis a carregar pesadas pedras dum lado para o outro intercaladas com a ditas aulas de reeducação a juntar com a comida que gabei nas primeiras horas tudo junto e sinto uma grande náusea.
Mas enfim lá vimos de regresso sem se perder ninguém no camião muito menos agitado que na vinda, não nos partem mas vão-nos vergando mesmo assim muito de nós vem a cantar hinos religiosos com a letra modificada como que brincando com Deus por ele brincar connosco, mas tudo é destino tudo é fatal.
O camião pára perto do bloco aproveito para saltar pegar na mochila e correr para o bar mais perto e pedir um bagaço. De sôfrego engulo duma golada corri para a I JOKE POD saquei dum níquel e procurei uma oldie-goldie. ELVIS PRESLEY que fazia hoje anos Jail House Rock entre tantas a escolher e eu escolho o que quero o níquel é meu sem a treta do olho por olho dente por dente, são as semanas após semanas que dão anos que me tiram da vida.

Fossa de Babel Episódio 42

Aproveitei o resto do descanso da hora de almoço para o meu bloco de notas:
"A vida muda assim ditam as mutações, muda como a sombra gira com o sol presa a um eixo, ao cordão umbilical do tempo que nos vai fazendo vergar e erguer mediante o estado dos fluidos internos.
Contamos com a gravidade essa força que nos esmaga e nos faz envelhecer precocemente e que ora nos empurra para um lado ou para lado nenhum mas que nos come as forças sempre que tentamos tirar os pés do chão.
Está frio de mais para pegar na caneta e a paisagem murada não dá para grandes divagações mas chego forçadamente à conclusão que o caminho da educação é mais fácil que o da reeducação, menos deloroso estou certo mas será tão livremente saboroso?"

Fossa de Babel Episódio 41

Subo para os camiões esta semana calha-me ir para os campos de reeducação com algumas centena de ex-reclusos como eu. Depois do caos de subir para os camiões com o pessoal a demonstrar pouca paciência e humanidade lá seguimos ensanduichados para os campos de reeducação.
Enfim chega o comité de recepção que nos manda despir e com fortes mangueiras nos atiram ao chão, questão de higiene dizem eles (penso mais em humilhação) o resto é uma espécie de cartilha da escola primária que nos é imbutida com mensagens do género - Não serás subversivo!
Por a hora do almoço por fim deixam-nos em paz tudo isto começou por volta das 4 da manhã.
- Shane O'Martins ( na fossa os nomes são escolhidos como o nome da personalidade que mais gostas e o nome do teu clã )- ouço alguém dizer, arranjas-em um cigarro.
-Não nego cigarros se os tiver!
E ficamos os dois a olhar para o absurdo de tudo aquilo comparada com a vida parca que tínhamos na fossa, hoje até tínhamos tido almoço com mais algumas humilhações mas tínhamos. Mas como diria um poeta antigo mais ou menos mudando um pouco as suas palavras, normas são normas.

Fossa de Babel Episódio 40

Hoje é dia de ressaca. Ressaca do passar dos anos. Ontem fiz 39 anos fico a um dos 40. É uma coisa engraçada o tempo a passar não me parece uma linha em recta mas uma coisa mais elíptica que nos vais consumindo os nervos e os cabelos.
No bloco Ak47 houve farra com a família e alguns "amigos"como o Boris e a D.Eleonora que finalmente tive o prazer de conhecer. Mas foi no fim da festa com a casa desarrumada a pensar nos encargos que dava à minha mãe noutros tempos procurei a janela e sacei do ultimo cigarro do maço e acendi-o apesar do forte vento e fui pensando que apesar de tudo levo um vida muito solitária tanto como tinha na prisão que duma certa forma não acabou e continua a ecoar na minha cabeça.
Todas as sombras desta noite saem esta noite dos meus pés e correm livremente pela Fossa exorcitando os fantasmas dos "eus" presos pelos "teus". As sombras acabam-se com cigarro apago a perisca.

Fossa de Babel Episódio 39

Caminhava ontem pela fria manhã da Fossa e encontrei um panfleto com os seguintes dizeres:

As primeiras impressões do Sec.XXI foram vividas à volta do BUG do Ano 2000. Corria-se terra a terra...continente a continente mas ele não apareceu, nem ele nem o famoso Apocalipse bimilenar. Portanto o Sec. XXI se não rebentarem com ele nuclearmente (sim ainda existem bombas atómicas) já se livrou de duas grandes ameaças.
Começo a acreditar que o sonho deste milénio será erradicar a palavra ESPERANÇA (ou parte dela que sempre precisamos de alguma). Erradicaremos os acampamentos de refugiados, erradicaremos as fronteiras e conflitos armados daí resultantes, a pobreza alimentar e intelectual (eu vou ter sorte que já ninguém dá emprego a um gajo com o 9ºano). Erradicaremos a má distribuição da riqueza porque "muito é pouco" e "pouco é muito". Erradicaremos toda a forma de sofrimento com a evolução das medicinas tradicionais e convencionais que darão as mãos pela saúde num mundo melhor. Erradicaremos a violência urbana criando os nosso filhos em segurança mergulhados a fundo nas culturas tribais cultivadas em Paz.
Sim já e tempo de vivermos todos como um planeta sem Norte Rico e o Pobre Sul, está na altura de dizer basta e por fim erradicar a palavra Esperança ;).

Fossa de Babel Episódio 38

Espíritos antigos libertados, novos espíritos renovados é assim a pastilha de gurunsan da fossa nesta manhã de ano novo. O corpo está meio em transe devido aos efeitos secundários da neve artificial e não é dia de escrever por me sentir mal depois de checkar o correio electrónico no tele operador ingenuamente como alguém diria.
Puxo o balde para o meu lado é tempo de por a agonia em dia e boas entradas para 2010.